O estilo de vida moderno acaba nos envolvendo em grande número de atividades, sejam elas ligadas à família, ao trabalho, ao lazer, aos amigos e a mais uma série de papéis que desempenhamos em nosso dia-a-dia. Muitas vezes ao mesmo tempo somos pais, filhos, esposo(a), profissional (muitos trabalham em mais de um lugar) … enfim, o ser humano é um ser social e necessita da interação com outras pessoas. Precisamos do trabalho como meio de garantir nosso sustento e o de nossa família, ao mesmo tempo deste promover uma satisfação pessoal de pessoa produtiva. Nem sempre isto ocorre e é comum depararmos com situações de stress no trabalho que, aliadas com os agentes estressores de nosso dia-a-dia, provenientes de nossa relação com familiares e amigos nos deixam irritados, cansados e até mesmo esgotados.
Dar conta de toda esta correria às vezes é muito difícil, sendo ainda pior (ou até impossível) quando temos alguma pessoa próxima que dependa de nosso cuidado para sobreviver. Pais de filhos pequenos e filhos de pais idosos freqüentemente lidam com esta dificuldade, muitos precisam abandonar seu emprego, se deparar com dificuldades financeiras e mudar seu estilo de vida para ficarem próximos de seus entes queridos. Muitos pais se sentem culpados por deixar seus filhos em berçários e creches, alguns precisam deste tipo de serviço desde o momento em que a mãe sai de sua licença-maternidade e geralmente esta separação não se dá de uma forma fácil, porém necessária. Filhos de pais idosos, especialmente aqueles que se encontram muito dependentes, vivem este mesmo dilema. Eles precisam trabalhar, pois, além de dar conta do seu próprio orçamento, muitas vezes a aposentadoria dos pais não é suficiente para custear as despesas deles e ainda precisam cuidar de seus pais.
Que tipo de cuidado um idoso precisa? Isto varia muito. Um idoso independente necessita dos cuidados que todo pessoa demanda, tais como atenção, companhia, afeto e respeito. Um idoso dependente, além destes, precisa de muito mais: para sobreviver, ele necessita que alguém o alimente, cuide de sua segurança, de sua higiene pessoal, de sua saúde, assim como uma criança pequena também necessita. E uma pessoa que trabalha fora não possui condições de ser um cuidador em tempo integral (na verdade, em benefício da saúde física e psíquica do cuidador, seriam necessárias mais pessoas que dividissem esta responsabilidade).
Cabe à família e ao idoso (quando este tem condições de decidir sobre sua própria vida) escolher qual a melhor alternativa para o cuidado. Ele pode permanecer em sua própria casa (contando com o auxílio de um cuidador), mudar-se para a casa de um filho ou familiar próximo (onde será cuidado pelos familiares e, quando possível, por um cuidador profissional) ou ser levado para uma instituição asilar ou casa de repouso. Os familiares, na maioria das situações, recorrem à última alternativa somente quando não possui outra opção, pois considera a institucionalização como sinônimo de abandono e negligência. Porém nem sempre isto é verdade.
Caso a solução seja levar seu familiar idoso para residir numa instituição, alguns cuidados básicos devem ser tomados. O primeiro deles é certificar-se de que o local está adequado para receber uma pessoa tão querida, se possui alvará de funcionamento, se os familiares dos outros idosos recomendam o local, se possui profissionais competentes em seu quadro de funcionários, se é um local limpo e acolhedor, além de outras observações. Após esta sondagem, sempre que possível, deve-se perguntar se o idoso gostaria de morar naquele local, a opinião dele é muito importante. Convém ressaltar que, no serviço privado de saúde geralmente é muito caro manter um idoso num local que realmente seja adequado, às vezes os custos chegam a ser mais elevados do que se a família optar por mantê-lo em casa com a presença constante de cuidadores profissionais ou informais, capacitados para desempenhar esta função. Nestes casos, torna-se mais acessível financeiramente quando a família é extensa e divide as despesas, nas famílias menores o custo por pessoa torna-se bem maior. O serviço público de saúde também pode oferecer instituições que atendam às expectativas de idosos e familiares.
Manter um idoso numa instituição de maneira consciente não é abandoná-lo. A família deve proporcionar carinho e atenção, fazendo visitas constantes, levando o idoso em casa e a pequenos passeios (quando suas condições de saúde permitirem). Agindo assim, o sentimento de culpa é minimizado, e a institucionalização passa a ser percebida como uma alternativa de garantir segurança e cuidados a alguém tão querido e não um castigo ou ingratidão (já que muitos filhos se culpam por não cuidar de alguém que cuidou deles enquanto crianças). Uma postura inadequada seria levá-los para a instituição asilar como se estivessem se livrando de um peso, abandonando-os e fazendo visitas apenas nos dias de pagar as mensalidades.
O ideal é que o idoso permaneça o mais próximo possível de sua família, porém, é importante ressaltar que é melhor colocar um idoso numa instituição do que mantê-lo em casa, sem a atenção e os cuidados necessários para que ele envelheça com dignidade. Sabe-se que muitas vezes é financeiramente impossível abrir mão de um emprego para cuidar de um familiar querido em tempo integral, mas uma escolha consciente sobre o curso da vida de um familiar envolve muito diálogo com os envolvidos, respeitando valores, pesando pós e contras e principalmente, pensando numa decisão que garanta o melhor para o idoso e sua família. Alguns filhos preferem deixar idosos dependentes sozinhos em casa, por longos períodos de tempo, a contratarem um cuidador ou levá-los para instituição e, isto sim, é uma forma de violência.
por Luciene C. Miranda